Henrique Eduardo inicia périplo pela presidência da Câmara
Deputado enfrenta concorrente dentro do próprio PMDB; Rose de Freitas
aposta na pulverização dos votos para desestabilizar candidatura do favorito
A dois meses das eleições para a
presidência da Câmara dos Deputados, previstas para fevereiro, a disputa já tem
o seu favorito: o peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN). Conta a favor de
Alves o acordo mantido entre PT e PMDB desde o governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, que garante a alternância dos partidos na presidência da Casa de dois em
dois anos. Além disso, no último mês, sete legendas oficializaram apoio ao nome
do parlamentar, o que garante a ele, em tese, mais da metade dos 513 votos da
Casa. O nome dele tem o aval do governo Dilma Rousseff e do PT.
Ainda assim, eleger-se não será
tão fácil quanto aparenta. Correligionária de Alves, a atual vice-presidente da
Câmara, Rose de Freitas (ES), já mostrou que dará trabalho ao colega. Ela
prometeu oficializar nesta semana sua candidatura à presidência. Antes, terá
uma conversa com Michel Temer, vice-presidente da República e mandachuva do
partido. A motivação da deputada é, sobretudo, a vontade de “inovar” na
presidência da Casa, colocando na pauta de votações projetos “populares”. Na
briga pela preferência dos parlamentares, encoraja Rose uma pesquisa interna
segundo a qual metade dos deputados pretende votar em branco.
Outro concorrente de Henrique
Eduardo Alves é Júlio Delgado (PSB-MG). A candidatura surge no contexto dos
planos para as eleições presidenciais de 2014 do presidente nacional do PSB, o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Historicamente ligados ao PT, os
socialistas fazem mais um movimento de distanciamento do partido aliado ao
apresentar uma candidatura “independente” à presidência da Câmara.
Com o risco iminente de uma
pulverização dos votos dos deputados, Alves se viu obrigado iniciar já a
campanha. O périplo começa nesta semana. Primeiro, pelo telefone. Do gabinete,
ele ligará para todos os deputados falando sobre suas propostas e pedindo votos.
Em janeiro, viajará pelo país para panfletar.
Luta por apoios – Carioca de 64 anos, Henrique Eduardo Alves
acumula onze mandatos consecutivos como deputado federal. São 42 anos no cargo.
Filho de Aluízio Alves, ex-governador cassado pelo AI-5 na época da ditadura,
elegeu-se pela primeira vez aos 22 anos, à frente do MDB. A sigla deu origem ao
PMDB, partido que Henrique Eduardo Alves lidera há seis anos.
Para suceder o petista Marco Maia
(RS) na presidência da Câmara, o peemedebista costurou o apoio de PT, PR, PPS,
PC do B, PSC, PP e PMDB. Nesta terça-feira, ele se reúne com representantes do
PSDB, que baterá o martelo sobre o assunto. Na quarta, a conversa será com o
DEM.
Em encontro na semana passada,
Alves colheu assinaturas entre os deputados do PMDB. A bancada, dessa forma,
lançou oficialmente a sua candidatura. Nos bastidores, há relatos de que
parlamentares que apenas rubricaram a lista para evitar constrangimentos – um
indício da fragilidade dos apoios.
Poder de articulação – O desafio do PMDB, para além do favoritismo
de Alves, é conquistar a presidência da Câmara com uma demonstração inequívoca
de força política. O partido está tarimbado após sucessivas crises de
interlocução com o governo Dilma Rousseff. No ano passado, na primeira passagem
do Código Florestal pela Câmara, Alves foi responsável por uma das maiores
derrotas do Planalto no Congresso: cedeu à bancada ruralista e aprovou, em
texto de sua relatoria, a anistia a desmatadores.
Ele tem, mesmo assim, o aval do
Planalto e do PT para a chefia da Câmara. Para o vice-líder do PMDB na Casa,
Eduardo Cunha (RJ), o modo como Alves lidou com as divergências na bancada
governista no caso do Código Florestal sinaliza como ele pretende conduzir a
Câmara. "Henrique não colocaria nenhuma matéria em risco, não deixaria ir
para o confronto de última hora, tentaria até o último momento negociar com a
base", diz.
E o governo vai depender de uma
boa relação com o Congresso para aprovar projetos prioritários já no início de
2013. No calendário do próximo ano estão a reforma política, o novo marco
regulatório para greve no funcionalismo público e a nova lei de direitos
autorais. Ficará, portanto, a cargo do presidente da Câmara conduzir as
conversas para viabilizar projetos que, ao fim e ao cabo, terão impacto na
campanha presidencial de 2014.
"À medida que vamos nos
aproximando das eleições presidenciais, as dificuldades dentro da Câmara tendem
a se agravar”, admite Eduardo Cunha. “Mas isso também aconteceu em 2010 com o
então presidente da Casa Michel Temer. Estão todos preparados.” Se bem sucedido
na liderança da Casa, o PMDB chega às eleições com mais de um ás na manga.
Concorrência – Adversário de Alves, Júlio Delgado também tem
familiares no meio político. É filho do ex-prefeito Tarcísio Delgado. O mineiro
de 46 anos está na quarta legislatura. Ele confia nas boas relações pessoais
para aliar forças em torno do seu nome. “Henrique passou muito tempo em volta
das mesmas pessoas”, diz Delgado. “Mas 45% do parlamento está chegando agora,
ainda não conhece os deputados.” Ele promete recorrer à bancada do PMDB mineiro
em busca de votos.
“As bancadas fazem acordo e os
outros partidos ficam à revelia da presidência. A minha candidatura representa
alternativas não ao Henrique, mas à proposta do que ele representa”, argumenta
Delgado.
Vice – Se o PMDB de fato conquistar a presidência da Câmara,
restará ao PT o cargo de vice. O regimento da Casa estabelece que os dois
partidos de maior bancada têm direito a ocupar as duas mais altas posições de comando.
Os nomes mais cotados para a vice são os deputados André Vargas (PR) e Paulo
Teixeira (SP).
Fonte: Revista Veja/ Marcela Mattos e Tai Nalon, de Brasília (Materia da veja aqui)
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