Favorito para vencer a disputa
pela presidência da Câmara dos Deputados, o líder do PMDB, Henrique Eduardo
Alves, deputado federal há 42 anos, se apresenta como um profundo conhecedor
dos meandros do Parlamento. Trata-se da mais pura verdade, como se verá a
seguir.
Como todo deputado, o potiguar
Alves recebe, além do salário, uma ajuda de custo de 32 000 reais para bancar as
despesas do mandato. No seu caso, mais de um quarto desse dinheiro (8 300
reais) é gasto a cada mês com aluguel de veículos, segundo sua prestação de
contas. Ocorre que as notas fiscais que Alves apresenta para comprovar essas
despesas são emitidas por uma empresa registrada em nome de uma laranja -
ligada a um conhecido ex-assessor de seu partido.
A Global Transportes tem como
endereço uma casa na periferia de Brasília. No papel, pertence à ex-vendedora
de tapetes Viviane dos Santos. Localizada por VEJA, Viviane disse nem saber da
existência de contrato com o deputado. Ela afirma que, na verdade, emprestou
seu nome a uma tia - e admite que a empresa da qual é “dona”, e que
supostamente aluga veículos, não possui um carro sequer. A tia de Viviane,
Kelen Gomes, que fornece as notas ao gabinete do deputado Alves, é quem tenta
explicar: “Nós arrumamos carros com terceiros e os alugamos”. Procurado,
Henrique Alves primeiro disse que, quando está em Brasília, utiliza carro
próprio. Depois, corrigiu-se afirmando que o carro que usa na capital é
alugado, sim, mas ele não se lembra nem mesmo do modelo. Por fim, mandou que um
funcionário de seu gabinete, Wellington Costa, desse explicações. “Você acha
que eu cuido disso?”, reagiu Alves. O funcionário, porém, foi de uma
sinceridade rara: “Talvez o deputado não se lembre, mas foi ele quem mandou
contratar essa empresa”.
Por trás da mamata está César
Cunha, ex-assessor do PMDB. Ele foi sócio da Executiva, outra empresa que não
existe no endereço declarado. A Executiva forneceu notas a Henrique Alves até
se enrolar com a Justiça e ser substituída pela Global. Desde 2009, Alves
destinou às duas empresas, sob a batuta de César Cunha, 357 000 reais. Daria
para comprar cinco carros executivos. Na campanha pela presidência da Câmara,
Alves tem dito que trabalhará para limpar a imagem da Casa, manchada por
escândalos. Pelo visto, terá de começar pelo próprio gabinete.
Fonte: Revista Veja
POR FORA - A ex-vendedora Viviane dos Santos não sabia que a empresa aberta em seu nome alugava veículos ao deputado. A Global tem sede numa casa na periferia de Brasília e não possui carros |
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