Final de procissão da
padroeira de Mossoró é marcado por vaias diluvianas e outros constrangimentos
O encerramento da Festa
de Santa Luzia hoje à noite, em Mossoró, após longo percurso de sua procissão,
foi uma negação à própria liturgia religiosa. Teve momentos constrangedores e
bizarros.
O prefeito Francisco
José Júnior (PSD) apropriou-se do adro da Catedral de Santa Luzia, com o
beneplácito da Igreja local, para fazer apologia à sua própria imagem,
comparando-se com a padroeira e a Jesus Cristo, nos papeis de injustiçado e
vítima.
A oratória do prefeito
provocou uma quase intermitente onda de vaias na multidão que se postava no
entorno da Catedral. Desde que foi anunciado como orador, vaias diluvianas
ecoaram por milhares de vozes.
Ele sabia o que iria
encontrar. Em seu discurso escrito já havia previamente referência às vaias.
Mas é preciso se reconhecer: não se intimidou e insistiu até o final em
transformar a um evento religioso numa oportunidade de promover comício fora de
época e de lugar.
Até tratou a padroeira
com certa intimidade, a quem se referia como “Luzia” e, afirmou, ser um mártir
a exemplo da santa de Siracusa, que “também foi perseguida”.
Ele
e Cristo
Sobre Jesus Cristo, a
mesma analogia, no rol de perseguidos. Ele e Cristo, aquele mesmo da Galileia,
o filho de Deus. E haja vaia.
O constrangimento foi
transmitido ao vivo por rádios e pela TV Cabo Mossoró (TCM). Amplificou-se na
tentativa do prefeito de reverter a enorme reprovação pública, ao entregar ao
bispo Dom Mariano Manzana uma caixa em que revelou existir projeto e maquete
eletrônica do Santuário de Santa Luzia, a ser construído no alto da Serra
Mossoró. Deixou implícito que não caberia à Prefeitura o empreendimento, ao
contrário do que afirmara antes em discursos e entrevistas.
Quando finalmente
surgiram sinais de aplausos, ele novamente abusou. Mandou projetar no
frontispício da Catedral um vídeo com aspectos do projeto. Mais e mais vaias
sem que conseguisse completar a exibição.
Reprovação
do bispo
Encerrada a sua fala, o
prefeito voltou à cadeira onde estava anteriormente ao lado do governador
Robinson Faria (PSD). O embaraço não estava encerrado.
Dom Mariano Manzana,
com microfone à mão, lembrou ao prefeito e aos devotos que há mais de um ano
conversara com o governante sobre o
projeto, sugerindo a montagem de uma comissão paritária da Igreja e Prefeitura,
para discutir a sua formatação. Nunca obtivera retorno. Recebia-o agora pronto,
sem respeito ao que sugerira.
Por Carlos Santos
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