A força-tarefa da Lava
Jato divulgou na noite deste domingo, nota em que confirma que as mensagens
publicadas pelo site Intercept Brasil são fruto de um ataque de hackers.
Eis a nota dos
procuradores de Curitiba:
Nota
Força-tarefa informa a
ocorrência de ataque criminoso à Lava Jato
A força-tarefa da Lava
Jato no Ministério Público Federal do Paraná (MPF/PR) vem a público informar
que seus membros foram vítimas de ação criminosa de um hacker que praticou os
mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança
de seus integrantes.
A ação vil do hacker
invadiu telefones e aplicativos de procuradores da Lava Jato usados para
comunicação privada e no interesse do trabalho, tendo havido ainda a subtração
de identidade de alguns de seus integrantes. Não se sabe exatamente ainda a
extensão da invasão, mas se sabe que foram obtidas cópias de mensagens e
arquivos trocados em relações privadas e de trabalho.
Dentre as informações
ilegalmente copiadas, possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias
e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos
integrantes da força-tarefa e de suas famílias.
Há a tranquilidade de
que os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com
pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial, em mais de cinco
anos de Operação.
Contudo, há três preocupações. Primeiro, os avanços contra a corrupção promovidos pela Lava Jato foram seguidos, em diversas oportunidades, por fortes reações de pessoas que defendiam os interesses de corruptos, não raro de modo oculto e dissimulado.
A violação criminosa das comunicações de autoridades constituídas é uma grave e ilícita afronta ao Estado e se coaduna com o objetivo de obstar a continuidade da Operação, expondo a vida dos seus membros e famílias a riscos pessoais. Ninguém deve ter sua intimidade – seja física, seja moral – devassada ou divulgada contra a sua vontade. Além disso, na medida em que expõe rotinas e detalhes da vida pessoal, a ação ilegal cria enormes riscos à intimidade e à segurança dos integrantes da força-tarefa, de seus familiares e amigos.
Em segundo lugar, uma
vez ultrapassados todos os limites de respeito às instituições e às autoridades
constituídas na República, é de se esperar que a atividade criminosa continue e
avance para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto, falsificar
integral ou parcialmente informações e disseminar “fake news”.
Entretanto, os
procuradores da Lava Jato não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à
extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e
profissionais. A atuação sórdida daqueles que vierem a se aproveitar da ação do
“hacker” para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto e
falsificar integral ou parcialmente informações atende interesses inconfessáveis
de criminosos atingidos pela Lava Jato.
Por fim, os
procuradores da Lava Jato em Curitiba mantiveram, ao longo dos últimos cinco
anos, discussões em grupos de mensagens, sobre diversos temas, alguns
complexos, em paralelo a reuniões pessoais que lhes dão contexto. Vários dos
integrantes da força-tarefa de procuradores são amigos próximos e, nesse
ambiente, são comuns desabafos e brincadeiras. Muitas conversas, sem o devido
contexto, podem dar margem para interpretações equivocadas. A força-tarefa
lamenta profundamente pelo desconforto daqueles que eventualmente tenham se
sentido atingidos.
Diante disso, em
paralelo à necessária continuidade de seu trabalho em favor da sociedade, a
força-tarefa da Lava Jato estará à disposição para prestar esclarecimentos
sobre fatos e procedimentos de sua responsabilidade, com o objetivo de manter a
confiança pública na plena licitude e legitimidade de sua atuação, assim como
de prestar contas de seu trabalho à sociedade.
Contudo, nenhum pedido
de esclarecimento ocorreu antes das publicações, o que surpreende e contraria
as melhores práticas jornalísticas. Esclarecimentos posteriores, evidentemente,
podem não ser vistos pelo mesmo público que leu as matérias originais, o que
também fere um critério de justiça. Além disso, é digno de nota o viés
tendencioso do conteúdo até o momento divulgado, o que é um indicativo que pode
confirmar o objetivo original do hacker de, efetivamente, atacar a operação
Lava Jato.
De todo modo, eventuais
críticas feitas pela opinião pública sobre as mensagens trocadas por seus
integrantes serão recebidas como uma oportunidade para a reflexão e o
aperfeiçoamento dos trabalhos da força-tarefa.
Em paralelo à
necessária reflexão e prestação de contas à sociedade, é importante dar continuidade
ao trabalho. Apenas neste ano, dezenas de pessoas foram acusadas por corrupção
e mais de 750 milhões de reais foram recuperados para os cofres públicos.
Apenas dois dos acordos em negociação poderão resultar para a sociedade
brasileira na recuperação de mais de R$ 1 bilhão em meados deste ano. No total,
em Curitiba, mais de 400 pessoas já foram acusadas e 13 bilhões de reais vêm
sendo recuperados, representando um avanço contra a criminalidade sem
precedentes. Além disso, a força-tarefa garantiu que ficassem no Brasil cerca
de 2,5 bilhões de reais que seriam destinados aos Estados Unidos.
Em face da agressão
cibernética, foram adotadas medidas para aprimorar a segurança das comunicações
dos integrantes do Ministério Público Federal, assim como para responsabilizar
os envolvidos no ataque hacker, que não se confunde com a atuação da imprensa.
Desde o primeiro momento em que percebidas as tentativas de ataques, a
força-tarefa comunicou a Procuradoria-Geral da República para que medidas de
segurança pudessem ser adotadas em relação a todos os membros do MPF. Na mesma
direção, um grupo de trabalho envolvendo diversos procuradores da República foi
constituído para, em auxílio à Secretaria de Tecnologia da Informação e
Comunicação da PGR, aprofundar as investigações e buscar as melhores medidas de
prevenção a novas investidas criminosas.
Em conclusão, os
membros do Ministério Público Federal que integram a força-tarefa da operação
Lava Jato renovam publicamente o compromisso de avançar o trabalho técnico,
imparcial e apartidário e informam que estão sendo adotadas medidas para
esclarecer a sociedade sobre eventuais dúvidas sobre as mensagens trocadas,
para a apuração rigorosa dos crimes sob o necessário sigilo e para minorar os
riscos à segurança dos procuradores atacados e de suas famílias.
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