O cenário local de
queda de juros e aprovação da reforma da Previdência, bem como a trégua na
guerra comercial entre Estados Unidos e China, levou o risco-país do Brasil ao
patamar mínimo em mais de seis anos nesta terça-feira (29).
O risco-país funciona
como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a
economias, especialmente as emergentes.
Hoje ele é medido
principalmente pelo desempenho do CDS (Credit Default Swap). Se o indicador
sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se
ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à
capacidade de o país saldar suas dívidas.
Após 15 quedas
consecutivas, o CDS de cinco anos do Brasil foi a 117 pontos, menor patamar
desde 13 de maio de 2013. Esse período antecedeu os protestos de 2013, que
marcaram o início da turbulência política no Brasil e também o ciclo econômico
que colocou o país em profunda recessão, da qual saiu com dificuldades.
Além disso, naquele
momento, o Brasil tinha o selo de bom pagador concedido pelas agências de
classificação de risco S&P, Fitch e Moody’s, outra chancela acompanhada por
investidores internacionais ao decidir aplicações em países emergentes,
considerados mais arriscados.
O CDS começou a cair de
forma mais vigorosa após o Senado concluir, no último dia 23, a tramitação da
reforma da Previdência no Congresso. A medida é vista como crucial para
estabilizar a dívida pública, o que diminui o risco de um calote no futuro.
Mas o CDS já vinha em
trajetória de queda desde o começo do ano, acompanhando a euforia do mercado
financeiro que se refletia em outros indicadores. Entre eles estão a alta da
Bolsa brasileira para máximas históricas e a queda nos contratos de juros
futuros (que sinalizam a remuneração exigida para emprestar ao governo e
despencaram a patamares inimagináveis no Brasil).
Nesta quarta-feira
(30), o BC (Banco Central) anuncia a nova taxa de juros do país, que deve cair
para 5% ao ano, segundo a projeção de consenso dos economistas.
O juro mais baixo
também reduz a pressão sobre a dívida e ajuda a reduzir o risco de calote. A
Selic saiu de 14,25%, em 2016, para os atuais 5,5%.
“Com a queda de juros,
a preocupação com a questão fiscal diminuiu muito. No Brasil, a queda da Selic
reduz a evolução da dívida, o que melhora a relação dívida-PIB e contribui para
um PIB maior”, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do
banco Fator.
A euforia local, ainda
que seja acompanha de sinalizações de reformas consideradas cruciais por
economistas e investidores, tampouco é isolada do mundo.
Assim como no Brasil,
os juros estão em queda na maioria dos países —sejam eles emergentes ou ricos,
como os Estados Unidos. Por consequência, o risco-país também cede nesses
lugares.
A diferença é que para
países emergentes a medida de risco pesa mais na decisão de investidores
institucionais na hora de movimentar recursos.
“Tirando a Argentina,
não tem nenhum emergente quebrado, sem dólar ou sem capacidade de comprar
dólar. De maneira geral, não há risco fiscal nos emergentes, há apenas déficit
e o risco dos governos darem calote é muito baixo”, diz o economista do Fator.
Para o analista da
Ativa Investimentos Ilan Arbetman, porém, a situação brasileira é relativamente
melhor, especialmente quando comparada com a da Argentina, o que reforça o viés
positivo.
“Temos muitos dados
aquém do esperado e ainda não chegamos no patamar de retomada econômica que
gostaríamos. Mas o mercado internacional consegue enxergar um potencial no
Brasil que nós ainda não conseguimos ver e isso é bastante positivo para nós”,
diz.
Indicadores que medem a
atração de estrangeiros para o Brasil mostram que o otimismo do CDS ainda não
se traduz em entrada de recursos: até a semana passada o fluxo cambial estava
negativo em US$ 19 bilhões (R$ 75,86 bilhões), enquanto investidores estrangeiros
sacaram R$ 30 bilhões da Bolsa brasileira.
Lima Gonçalves
acrescenta que a melhora no CDS não significa que o país terá sua nota de bom
pagador elevada em breve, pois os próprios analistas das agências têm dito que
a melhor no risco-país é insuficiente para sustentar uma alta no rating.
A melhora dependente
principalmente da economia, que ainda deve crescer menos de 1% neste ano,
abaixo dos 1,1% registrados em 2017 e em 2018. Para 2020, as estimativas rondam
os 2%, patamar considerado pouco robusto.
Economistas estimam que
um CDS baixo é instrumento para atrair investimentos, o que elevaria a taxa de
crescimento. Nos grandes bancos, há quem aposte na melhora da nota do Brasil em
um intervalo de 6 a 12 meses. O selo de bom pagador voltaria em quatro ou cinco
anos.
O Brasil perdeu o grau
de investimento entre 2015 e 2016, à medida em que a recessão se agravava e a
dívida pública crescia apenas sete anos depois de conquistá-lo.
FOLHAPRESS
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