Em bate-papo virtual
promovido pelo banco BTG Pactual e mediado pelo banqueiro André Esteves, FHC
disse ainda que está torcendo pela vitória de Joe Biden nas eleições
americanas. Segundo ele, os Estados Unidos precisam retomar seu papel na
condução do mundo que perderam com o crescimento da China e o Brasil pode se
beneficiar desse processo, pois Biden precisará de aliados.
“Tem um lado que
arrebentou todos esses países, que foi o populismo. Na Argentina e também na
Venezuela”, disse Cardoso. “Na Argentina, a ascensão rápida das massas
sindicais, a urbanização muito grande e riqueza que ela tinha levaram à ambição
de todo mundo participar. Na Venezuela, sem ter a mesma riqueza, tinha o
petróleo.”
Conforme o
ex-presidente, sob governos demagogos, Venezuela e Argentina gastaram mais do
que podiam. “Se você pensa só olhando pelo seu povo e começa a distribuir renda
que ainda não tem, como foi na Venezuela, você está perdido. Na Argentina,
distribuíram demais, houve uma pressão muito grande sindical, além do
razoável.”
Para FHC, o Brasil deve
olhar para o contraexemplo dos vizinhos. “Temos que olhar para esses países da
América Latina com muita atenção, porque, queiramos ou não, pertencemos ao
mesmo universo, e esse universo escorrega fácil.”
Questionado por Esteves
sobre a dificuldade do governo para criar o Renda Cidadã, ampliando o Bolsa
Família, e a armadilha de se cair em soluções fáceis ou de gastar demais em
obras e isso resultar em alta de juros, o tucano disse que um presidente não
pode perder o olhar do fiscal e que cabe ao Executivo zelar por isso e ter
visão de longo prazo, já que a maioria do Congresso acaba se norteando pelo
curto prazo e pelos interesses eleitorais dos parlamentares.
“É preciso dar o rumo,
quando o Congresso percebe que quem está sentado no cavalo não é cavaleiro, ele
derruba e quer tomar conta, mas ele não sabe tomar conta”, disse. “Dar atenção
não quer dizer ceder ao Congresso, quem tem a pauta e a capacidade executiva é
o presidente da República e seus ministros, eles que têm que dar o rumo.”
“Quem está sentado no
poder tem que ter chicote na mão também, não tem que ter só milho para dar. Tem
que ter compromisso com o futuro do país, não pode gastar hoje o que não vai
ter amanhã. Os venezuelanos fizeram isso, gastaram o petróleo que não iam ter
no dia seguinte. Os argentinos também fizeram isso em certo momento da
história.”
Quanto ao potencial impacto
das eleições americanas para o Brasil, FHC se disse otimista. “Estou torcendo
para que ganhe o Biden”, afirmou. “Acho que vai mexer com os Estados
Unidos e talvez tenha
um pouco menos de lorota, porque o Trump é muito contador de prosa.”
“Os Estados Unidos
estão precisando retomar a condução do mundo, que perderam, pois a China
cresceu. Para nós é bom que os Estados Unidos equilibrem um pouco esse jogo.”
Questionado por Esteves
sobre quais são as prioridades do Brasil na sua visão, FHC citou o investimento
em ciência e tecnologia como fundamental para o crescimento e a necessidade de
inclusão social para reduzir a gigantesca desigualdade do país.
“Estou aqui na minha
fundação, que é no centro de São Paulo, aqui tem o Viaduto do Chá, estão
fazendo uma obra grande, com chafariz. Precisa tomar cuidado, precisa ver se
pobre não vai tomar banho no chafariz aqui, por que antes era assim. Você vai
matar o pobre? Não vai matar o pobre. Tem que acabar com a pobreza, não é com o
pobre”, afirmou.
“Chegamos num ponto no
Brasil, como houve nos Estados Unidos, onde o Roosevelt fez o New Deal, em que
temos que ter políticas que sejam inclusivas. Isso implica em crescimento
econômico, se não, não vai haver inclusão. Não vai ter crescimento econômico
sem ter base tecnológica e não vai ter futuro se não tiver integração social.”
FOLHAPRESS
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