A CPI da Covid no
Senado tem ganhado protagonismo na agenda do Congresso. Qual a sua opinião
sobre o trabalho da comissão?
Neste momento, a CPI é
um erro. A guerra está no meio. Como é que você vai apurar crime de guerra no
meio da guerra? Como vai dizer qual é o certo? Até dois meses atrás, o Chile
era a nossa referência. Como está hoje? Por que está desse jeito se já vacinou
60%, 70%? No combate à pandemia, não tem receita de bolo pronta. Você não sabe
qual variante (predomina), se fica ou sai de lockdown. A CPI polarizou
politicamente e não vai trazer efeito algum, a não ser que pegue alguma coisa.
O senhor não acredita
que a CPI esteja apontando caminhos importantes?
Não. Participei das
conversas com a Pfizer, numa reunião em fevereiro com o Rodrigo Pacheco, o
(Paulo) Guedes, o general (Luiz Eduardo) Ramos e o presidente Bolsonaro.
Naquela época, não tinha autorização da Anvisa e achavam que o contrato era
leonino. O que dissemos? Se tem dinheiro, se tem empenho, se o mundo todo está
assinando esse contrato… Então, faça. Do dia em que a Pfizer propôs ao dia em
que o governo fez (o contrato), se não errei as contas, alteraria em três
milhões de doses (a mais). É muita dose. Ajudaria muita gente. Mas resolveria o
problema da pandemia?
Mas a Pfizer já vinha
negociando com o governo desde agosto…
Mas onde ela fechou em
agosto, fora nos Estados Unidos e em Israel? Tinha 500 mil doses num canto, 100
mil doses em outro. Não tinha nada grande. Israel tem quantos habitantes? Seis
milhões? Um país riquíssimo, com todas as proteções. Num país como Portugal,
três milhões de doses vacinam 30% da população. Três milhões de doses no Brasil
não vacinam Alagoas.
Mesmo assim seria
importante salvar vidas.
Não estou dizendo que
não é (importante). Estou dizendo que não é a salvação da pandemia. Qualquer
vida é importante. Salvar uma vida é bom demais. Agora, não sou governo. A
minha atuação nisso foi fazer com que assinassem.
Há condições de abrir processo de impeachment contra o presidente?
Não é por aí. A minha
função no impeachment é de neutralidade. Não sou eu que faço o impeachment.
Você quer dizer que o presidente Bolsonaro não tem voto na Câmara para segurar
um pedido de impeachment? Que ele não tem base de apoio popular para se
contrapor a um pedido de impeachment? Então, o que é que estão querendo? Que eu
desorganize o país, que eu comece uma conflagração de 122 votos que querem
contra 347 que não querem? Vocês querem testar? O que a população quer é
testar? Acha que é o caminho? Vamos testar. O que eu estou dizendo é que o
impeachment é feito com circunstâncias, com uma política fiscal desorganizada,
uma política econômica troncha. O impeachment é político.
E as 500 mil mortes por
Covid não seriam uma justificativa?
499 mil (mortes)
seriam. 501 mil seriam. Uma seria. A questão é sobre se tem (circunstâncias).
Tem? Ou é uma parte que está pedindo? Vai resolver o quê? É o (vice-presidente
Hamilton) Mourão que vai resolver? O que é que vamos fazer com o impeachment?
Impeachment tem várias circunstâncias, e venho dizendo isso muito claramente. O
(ex-presidente Michel) Temer tinha apenas 3% de aprovação popular, com o Janot
(Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República) todo o dia disparando uma
flecha. E passou por dois pedidos negados na Câmara. Lula teve o mensalão e não
teve pedido de impeachment, com um rebanho de gente pedindo. Fernando Henrique
teve. Rodrigo Maia, claramente de oposição a Bolsonaro, teve 67 pedidos de
impeachment na gaveta. Pautou um? Por quê?
O que falta então para
tocar o impeachment?
Falta circunstância.
Falta um conjunto de coisas. Enquanto a economia tiver em crescimento… Veja
bem, não estou faltando com respeito a nenhuma vítima. 499 mil, 501 mil, são
todas significativas como uma vida. Pelo amor de Deus! O que estou dizendo é
que o impeachment não é feito só disso.
Quais são seus
compromissos de pauta de votação?
Tocando as reformas, a
administrativa e a tributária. Fizemos a autonomia do Banco Central.
Compromisso de votar as privatizações. Quando me candidatei, fui a seis
frentes, das mulheres, ruralistas, anticorrupção. E hoje essas matérias estão
vindo.
Mas as reformas
administrativa e tributária, não.
Mas tudo a seu tempo.
Todo mundo ficou pacientemente esperando o relatório (da tributária) por dois
anos. O Aguinaldo (Aguinaldo Ribeiro, relator) ficou dois anos, e ninguém via
uma linha do relatório dele.
E sobre a reforma
administrativa?
Passou na CCJ (Comissão
de Constituição e Justiça). Foi uma batalha. Criamos a comissão, abrimos para a
participação de todos os partidos, mesmo aqueles que não têm direito
regimental. Tem a versão de que vai acabar com a educação, acabar com o
funcionalismo. Não vai mexer em um centímetro de direito adquirido, tenho dito
isso. Não vamos permitir nada da promulgação para trás. Agora, da promulgação
para a frente, é nossa obrigação fazer um Estado mais ágil, mais moderno.
Como o senhor avalia a
disputa presidencial em 2022 com Lula no páreo?
Lula é um player
importante. Presidente duas vezes. O que eu não acredito é em terceira via. Não
tem condição. No Brasil, nunca houve isso. Ao menos depois da volta do voto
para presidente. Foi Collor e Lula (em 1989), depois anos de Lula contra o PSDB
e a Dilma também (contra o PSDB). E, em 2018, o Bolsonaro substitui o PSDB na
disputa com o PT. O PT está sempre lá. Por que não estaria nessa?
Na semana passada, a
Câmara aprovou a Lei de Improbidade. Qual a opinião do senhor?
Uma lei que vem num
momento correto. Não tem essa história de que fui beneficiado. Foi escolhido um
relator do PT (Ricardo Zarattini). E foi aprovada com 408 votos no plenário.
Tem que mudar. A atual lei está errada. A lei foi feita depois do impeachment
do Collor (em 1992), coisa analógica. Hoje, a Polícia Federal tem 800
instrumentos para fiscalizar, o Ministério Púbico outros 500. É tudo
digitalizado.
O Globo
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