O tempo teria passado
mais devagar se o petista tivesse sido questionado sobre as obras das
empreiteiras do governo no Sítio de Atibaia ou sobre o elevador que a OAS
instalou no tríplex para que ele usasse o imóvel. As delações de amigos do
peito como Antonio Palocci, que revelaram uma vida de mordomias bancadas por
empreiteiras, também tornariam mais incômodo o passeio.
Lula foi questionado logo
de saída por Bonner sobre a corrupção nos governos do PT. A pergunta não
promoveu um ajuste de contas com o passado — sempre negado pelo PT –, mas abriu
uma confortável visão ao futuro: o que o senhor vai fazer para evitar que se
repita?
Lula começou a entrevista
nervoso, com a perna balançando, o rosto fechado, mas aproveitou o treinamento
que Jair Bolsonaro, por arrogância, dispensou na véspera do JN. Sem cerimônia,
Lula leu respostas e citou dados do roteiro que levou com ele. Estava melhor
preparado para usar bem o tempo que teria.
Falou olhando para
câmera, ironizou o “amigo” de Bolsonaro na PGR e os 100 anos de sigilo impostos
em escala industrial pelo governo sempre que algum podre surge. Marcou
distância entre o seu tratamento em relação à Polícia Federal e o dispensado
atualmente por Bolsonaro.
Lula elogiou Dilma sem
ter sido incomodado com uma pergunta sobre a quase ruptura com ela no auge da
Lava-Jato ou sobre como ele queria voltar em 2014 e Dilma vetou. Lula falou do
prejuízo da Petrobras com a Lava-Jato sem ter sido questionado sobre os bilhões
roubados pelo PT nas diretorias da estatal, com propinas que giravam entre 1% e
3% e eram destinadas também ao PP e ao velho PMDB.
Lula não foi provocado a
explicar por que ainda está no partido de João Vaccari Neto e José Dirceu. A
roubalheira operada por eles nem o melhor dos advogados conseguiu derrubar.
Dirceu terá espaço no novo governo? Ou será o lobista que lucrou milhões no
governo de Dilma?
Ciro Gomes disse em
diferentes momentos na pré-campanha: foi a roubalheira do PT que produziu
Bolsonaro em 2018. Lula não foi questionado sobre o antipetismo que cresceu,
sobretudo, pelos meses de campanha do tal “Lula livre”.
Lula disse livremente que
o MST não invadiu propriedades produtivas e não foi confrontado por
quebradeiras em fazendas, fábricas e até no Congresso, em Brasília. Lula
chamava o MST de “Exército” quando quem fazia discurso autoritário era a esquerda.
O petista não foi questionado sobre os bilhões enviados a ditaduras como Cuba,
Venezuela e tantos outros países.
Lula falou o que quis,
não respondeu objetivamente as perguntas e foi pouco interrompido. A entrevista
fluiu de forma mais amistosa, virou conversa e discurso em alguns momentos e
deu ao petista uma generosa vitrine eleitoral. Lula falou sobre propostas, não
se comprometeu com nada do que foi provocado a se comprometer e ainda escapou
de responder a perguntas por falas como as que atacaram policiais, que
abordaram a questão do aborto e trataram de forma lamentável a violência contra
a mulher. É sempre mais fácil assistir e analisar do que fazer, claro, mas foi
um passeio no parque.
Radar – Veja
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